quarta-feira, 29 de abril de 2009

Carmélia

Carmélia faz café todos os dias no mesmo horário, depois compra
os pães na padaria a duas quadras dali. O marido reclama, diz
que ela deveria comprar os pães antes de fazer o café. Sabe que
ele toma outro depois de comer o pão e diz isso pra ele.
Acaba falando também da garrafa térmica que mantem quente o dito
cujo. Ainda sem dar chance de rebatida ao esposo, cita o cigarro
que ele também fuma com o café esperando os pães. O marido bate na
trave. "E se eu parar de fumar?". Fez a pergunta meio que na
exclamação. Carmélia viu bem onde ele queria chegar. Sendo que
ele nem queria chegar em legar nenhum. Gole no café.
Carmélia falou dos adesivos da farmácia, do tratamento grátis
no Hospital das Clínicas e de outros métodos vários que ela foi
lembrando, assim de cabeça. Ao marido só cabe comer o pão rápido
porque o trânsito não é brincadeira. "Trânsito não é brincadeira!"
Levanta e sai. Nesse dia o marido não tomou o último café.
Tinha que ter ali uma retaguarda. Mas Carmélia sabe bem onde
ele quer chegar. Isso, se o trânsito deixar.